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sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

E-mail do Internauta: Realidade Gay brasileira (Agora é aTreplica)



Depois de eu postar os comentários do Xisto aqui no blog TvHG (27/01/10)sobre a realidade dos gays brasileiros, ontem (28/01/10) Gospel teve seu direito de resposta sobre isso, que foi ao contrário a Xisto, agora damos a Treplica para o Sr. S.
....MINHA opinião....

Da mesma forma que podemos entender a crítica à promiscuidade como "um grito do superego condenando com forte repressão o desejo", podemos entender a promiscuidade como a INCAPACIDADE DO EGO de adequar esse desejo ao ambiente em que está inserido. Ainda podemos entender a promiscuidade como UM MECANISMO DE DEFESA que impede o indíviduo de assumir um relacionamento sério com medo da frustração. Ou seja, promiscuidade não deixa de ser uma disfunção psicológica. Ir além do conceito de promíscuo talvez não seja a melhor saída para se libertar da mira do "dedo acusador da sociedade". Essa "incapacidade do ego" de adequar os desejos às normas sociais vigentes é sim um problema... e um problema que realmente faz com que a homosexuaLIDADE seja tão mal vista.
É bobagem pensar que podemos negar nossas raízes, nosssa ideologias e crenças que são construídas socialmente. Felizmente ou/e infelizmente a sociedade é parte da nossa constituição. "Não é negar, é reconstruir". E um processo de reconstrução exige que "crenças injustas" sejam quebradas através da confrontação com a realidade, porém quase sempre que vou a algum banheiro de shopping, parque municipal ou lugarejo deserto e escuro me deparo com pegações, sexo explicito e etc[ que, aliás, é crime].
Então será mesmo justo que a sociedade não pense em libertinagem ao pensar em homossexualidade? Talvez seja essa propaganda que fazemos ao tentar vender nosso peixe.Estamos pisando em um solo machista, tradicional, cristão... Isto não dá para negar, da mesma forma que simplesmente nã dá criar e viver uma realidade paralela.Então se quisermos um dia alcançar igualdade diante de todos agir como se não houvesse uma estrutura social vigente não é o caminho adequado. O adequado seria se entender as demandas sociais e construir uma identidade GLBT a partir das mesmas.
ISTO É PRAGMATISMO: entender como as coisas funcionam no "Tête à tête"e colocar em ação... citar Foucault e Freud não o é. "palacras bonitas impressiona, mas não funciona". Não é chocando, transgredindo, peitando que alcançaremos o direito de igualdade. Existe promiscuidade sim, e isso é ruim tanto para os héteros quanto homossexuais... eu não participo de pegação aqui em BH, não me exponho nú em msn, não vou para cama com qualquer cara que pisque para mim ou aperte o saco no meio da rua... e isso não é por me achar sagrado, mas por achar que não sou profano, não sou sujo.. eu tenho meu valor... não sou um disque pizza. Me respeito... acho que isso é me respeitar... não sou um boneco inflável ou um dildo qualquer, daqueles que vc só obtem prazer e guarda no fundo da gaveta.
Não quero ser alguém que penetra ou é penetrado por alguém que nem sequer sabe meu nome.. não sou uma coisa, sou ALGUÉM. quanto ao trecho "o meu corpo é sagrado, e à prática religiosa, tem por tradição que se toquem no sagrado" --- eu penso diferente: as praticas religiosas que eu conheço tem por tradição que O SAGRADO SEJA RESPEITADO.E antes de ser Homossexual eu sou um indivíduo que tem o direito de emersão na sociedade que eu vivo sem trasngressão recorrendo a transformação.
Enfim... é um assunto delicado, que exige muita informação para ser discutido, não apenas paixão ou identificação. Isso traz a necessidade de criar argumentos realmente válidos e não apenas plásticos.

By - Sr. S.

5 comentários:

Renato HOFFMANN disse...

Vou apenas explicar algumas confusões epistemológicas aqui, não quero fazer disto uma guerra de opiniões, mas como militante na causa gay, não posso apenas ver e fingir que está tudo bem e que cada um tem o direito de pensar o que quiser! Na verdade, até tem, mas quando se expressa, a coisa muda, pois aquele significado pessoal ganha ares e contornos, e novos significantes, assim nascem preconceitos, assim nascem verdades e tradições...

Bem, agora à psicologia: “podemos entender a promiscuidade como a INCAPACIDADE DO EGO de adequar esse desejo ao ambiente em que está inserido. Ainda podemos entender a promiscuidade como UM MECANISMO DE DEFESA que impede o indíviduo (sic) de assumir um relacionamento sério com medo da frustração”.

Bem, não se pode entender não! Aliás, só se entenderá assim se valores universais forem atribuídos ao relacionamento, como algo divino, sagrado e cristão, querido por Deus. Mas, graças a Deus (xiiiiii), que as sociedades laicas têm superado esse discurso aí.

De longe, sociedades tinham na prática, dita promiscua, os verdadeiros laços da sociabilização. Vide os romanos antes da Igreja Cristã. Também, a promiscuidade possui, historicamente, um conceito xenofóbico, onde a mistura tem por si algo ruim, pernicioso, herdado conceito dos gregos. Mas a atividade sexual não tem que responder a uma interpretação que se adéqüe ao ambiente, como querido na premissa, ela simplesmente tem que acontecer, nos seres sexuados...

A castração proposta pelo ambiente tem caráter ideológico, e puramente moral. Começa com a Igreja Católica- numa apropriação judaico-cristã, e se faz como A VERDADE DO OCIDENTE, onde o pinto tem que ser escondido e os desejos reprimidos, numa sociedade que valoriza a pureza e os relacionamentos monogâmicos, e finge não acontecer safadezas, traições, canalhices, uma sociedade que no silêncio, absconditus animi et cordis, exalta a hipocrisia do não faça, mas faça! Entretanto, fazendo justiça, essa moral católica, também é adquirida, dos estóicos e sua ascese ganhará força com a idéia de martirizar a carne e seus prazeres e exaltar o espírito, àquilo que é sagrado (Aliás, algo parecido como a linha axiomática dessas respostas- defesas- ao banimento da promiscuidade.)!

Assim, como o sujeito psíquico é sujeito do GOZO, a incapacidade reside na MORAL superegoica, castrativa e punitiva. E não o contrário proposto na leitura- resposta. Nas clínicas psicológicas os “doentes” não são os promíscuos, geralmente, quem está às tampas com a NEUROSE CRÔNICA OBSESSIVA COMPULSIVA DEPRESSIVA, e também, com a HISTERIA são os que não gozam! Os recalcados, puritanos, aqueles que desejam uma vidinha de sexo a dois, somente um parceiro e felicidade eternamente, ou até que a morte os separe! Ainda, quem freqüenta banheiros públicos para as escapadinhas, são os mesmos neuróticos crônicos que se reprimem durante meses, e quando estão ao passo de um colapso nervoso aprontam horrores, e depois se culpam num martírio infinito pela safadeza moral de não conseguirem viver num padrão ideológico santificado, ou não promíscuo.

Duvida? Vá às clínicas psicológicas, faça pesquisas sobre o que é a neurose e veja, tire suas conclusões, mas essa inversão conceitual, epistemologicamente, não se verifica. Não é o promiscuo que freqüenta banheiros de pegação, até porque, ele, o promiscuo,

Renato HOFFMANN disse...

faz sexo em qualquer lugar, basta o olhar correspondido. Já aquele que tem a necessidade de manter tudo no sigilo, que não assume o desejo da trepada, e quer pousar de valoroso por um alto padrão moral diferenciado, este, na hora da explosão pulsional, bebe até a água da latrina desses banheiros! A diferença está em como se lida com... O que superou o conceito moral santificado está satisfeito, realizado com sua vida sexual, já aquele que tem que sustentar um padrão moral autopunitivo está se masturbando intelectualmente com a culpa de ser um devasso, e se satisfazendo com a hipocrisia de deixar tudo em segredo, enquanto profere os tais discursos reformistas condenando o comportamento social das pessoas que só enxergam sexo na sua frente, etc, etc, etc...

“promiscuidade como UM MECANISMO DE DEFESA que impede o indíviduo (sic) de assumir um relacionamento sério com medo da frustração”.

Essa sentença é falaciosa, aliás, é um eclipse de conceito! Promiscuidade mecanismo de defesa, opssss, os mecanismos de defesa do ego são uma teoria, que quando cursei psicologia, na área psicanalítica, traziam o disfarce, à máscara para o individuo lidar com seus problemas mal resolvidos. Esses mecanismos seriam inconscientes, onde o EGO se dissocia de impulsos sentidos como perigosos para a integridade do organismo. Assim eu só quero deixar registrado que se transar é cumprir a função pulsativa, o promiscuo jamais funcionaria ao ego, pelo contrário sua repressão é que se associa à defesa.

Bem, esse argumento além de falacioso é um total desconhecimento de causa, da teoria dos mecanismos de defesa do EGO. Assim, poderia eu falar do recalque ou repressão: A essência da Repressão consiste em afastar uma determinada coisa do consciente, mantendo-a à distância (no inconsciente). A repressão afasta da consciência um evento, idéia ou percepção potencialmente provocadoras de ansiedade e impede, dessa forma, qualquer "manipulação" possível desse material. Entretanto, o material reprimido continua fazendo parte da psique, apesar de inconsciente, e que continua causando problemas.

Segundo Freud, a repressão nunca é realizada de uma vez por todas e definitivamente, mas exige um continuado consumo de energia para se manter o material reprimido. Para ele os sintomas histéricos com freqüência têm sua origem em alguma antiga repressão. Algumas doenças psicossomáticas, tais como asma, artrite e úlcera, também poderiam estar relacionadas com a repressão. Também é possível que o cansaço excessivo, as fobias e a impotência ou a frigidez derivem de sentimentos reprimidos.

Finalmente, A rejeição/recalque é rejeitar uma motivação, emoção ou idéia, penosa ou perigosa, tendendo a dissociar-se delas.

Assim, eu me lembrei de um outro mecanismo de defesa, que é o da negação, e lendo esse texto de resposta não pude deixar de perceber o quanto a negação está aí presente:

Primeiro, você diz que é bobagem negar nossas raízes, que temos é que reconstruir, mas para reconstruir temos que quebrar conceitos... Ora, faça-me o favor! Se não adianta negar, e se tem que reconstruir, poderia até entender o reconstruir como uma reforma, uma ressignificação, mas quando você, in verbis, diz quebrar conceitos, é literalmente negar a validade da coisa em si mesma, uma vez que quebrar é tão somente destruir, invalidar, tirar a utilidade! E olha a negação no próprio processo lógico auferido por você em sua resposta!

Renato HOFFMANN disse...

Depois, você também se diz contrário à pegação, mas afirma textaulamente freqüentar lugares assim: “...porém quase sempre que vou a algum banheiro de shopping, parque municipal ou lugarejo deserto e escuro me deparo com pegações, sexo explicito e etc[ que, aliás, é crime].” Ora, se você sabe o que está acontecendo lá, se é contrário para que vai então? E aí você novamente entra no principio da negação: “...é crime” conclui! Meu caro, lamento isso! Mas aqui não preciso dizer mais nada, já está bem claro...

Destarte, exaltar o pragmatismo não é novidade, o tempo todo assim foi o discurso, pragmático à moral social contra os próprios gays e seu comportamento nefasto, promíscuo! Agora se cito Foucault é porque conheço a obra dele e sei a que causa militava e garanto: às idéias de Foucault são bem mais proveitosas do que você possa imaginar , ou àquilo que seu pragmatismo te permite entender. Dizer que não chocando a sociedade que vamos ter o direito dela pertencer, oras... O seu problema é não entender que a sociedade não tem o direito de massacrar nenhum estilo de vida que deseje ser aquilo que se é. E a mesma sociedade que você tanto exalta é a mesma que nunca te aceitará! Nunca aceitará seus padrões inferiores, não heterossexuais. Você deveria saber disso, se não sabe é porque está sustentando um discurso religioso, fanático em relação à santidade do corpo.

Meu caro adoro ter meu corpo tocado, e sempre quando fazem,assim procedem com muito respeito e tesão. Suspiros, desejos, pegadas, tapas, lambidas, mordidas... Tudo com muita santidade e sexo, como no sagrado, que é tocado por todos, experimentado na coletividade, visto, querido, almejado. Com certeza seu sagrado deve diferir do sagrado da humanidade. Pois se não é tocado não é apropriado!

Você, na verdade, deseja viver como homossexual o estilo de vida heterossexual, ora faça um favor a todos nós. Viva isso, mas não condene com sua moral ou moralismo, quem viva diferente de você! Nunca vi um promíscuo condenar o estilo de vida dos moralistas, entretanto os moralistas sempre estão nos blogs, na imprensa, nas igrejas, falando de crimes, sujeiras, doenças, inferno e condenações àqueles que não compartilham de seu ideal. Tudo bem que você não concorde, mas guarda isso pra você, pois é um insulto, a quem tem esse estilo de vida, que tanto te deixa insatisfeito, escutar que não se pode viver do jeito que se quer viver porque há quem ache que isso é errado e fere a moral social! Não difunda seu preconceito. Faça o mal que você quer, apenas a si mesmo! E deixa as pessoas viverem suas vidas sexuais de forma como elas desejarem!

Contudo, seu discurso é um apelo à religião ou a moral cristã sem de Deus usar o nome, chego a pensar que você se não freqüenta alguma igreja evangélica já freqüentou! E a religiosidade pragmática e austera ainda faz parte de você e de sua vida santa... O dia que você entender que DIREITO é choque de interesses, você entenderá que o Reino de Deus é tomado à força! E que se existe conflito social é porque a sociedade é capaz de mudar. O conflito já está aí, você pode continuar sendo direitista para ser “aceito” publicamente, ou você pode fazer algo de útil com sua vida e ter uma causa que, de fato, valha a pena lutar! Eu já vi muitos gays serem apedrejados por pessoas como você, que rejeitam isso ou aquilo, o chato é ter que conviver com o diferente. Isso você ainda não aprendeu, é por isso que aqui está seus escritos condenatórios, falando de um corpo santo, e de um valor sublime que você tem por si mesmo.

Renato HOFFMANN disse...

Pena que você não tenha esse mesmo valor pelo outro, e saiba respeitá-lo em suas práticas independentemente de quais elas sejam, porque você sempre estará diante de um ser humano, mas só seu corpo é santificado, percebo que o do outro não, se não faz parte de ser crivo de sua ideologia. Só peço que você guarde seus valores para si, e não estigmatize mais aqueles que já sofrem tanto por serem diferentes enquanto gays numa sociedade heteronormativa- cristã!

Renato Hoffmann- formado em psicologia, pós graduado em teologia, bacharelando em Direito. Administrador do Blog Gospel LGBT.

Oráculo Sexual disse...

Sr. S
Aí sim, estamos construindo algo.
É isso que faz a diferença, que muda opiniões e que nos faz subir na escala evolutiva de nós mesmos.
Falo com paixão sim, porque não gosto de ver pessoas com extremo potencial - gays ou não - totalmente cegas e viciosas para consigo mesmas.
Uma coisa é aproveitar a sexualidade em todos os níveis, a outra é perder o controle e deixar que isso tome conta de todos os aspectos de uma vida.
Muito obrigado pelo texto!
Xisto Lopes