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domingo, 10 de janeiro de 2010

Raio X: Harvey Bernard Milk - Parte V

Supervisor

O juramento de Milk foi manchete nacional ao se tornar o primeiro homem abertamente gay nos Estados Unidos não detentor de mandato anterior a vencer uma eleição para um cargo público.
Comparou-se ao pioneiro jogador de beisebol afro-americano Jackie Robinson e caminhava para a prefeitura de braços dados com Jack Lira, declarando "Você pode permanecer ao redor e jogar tijolos na prefeitura imbecil ou você pode tomar posse dela. Bem, nós estamos aqui". O distrito de Castro não foi o único a promover alguém novo à política da cidade. A mãe solteira (Carol Ruty Silver), o sino-americano (Gordon Lau), e a afro-americana (Ella Hill Hutch) eram todos principiantes no juramento da cidade junto com Milk, assim como Daniel White, um ex-policial e bombeiro, que falou do quão orgulhoso estava por sua avó poder vê-lo fazendo o juramento.
Milk em entrevista com sua vitoria como supervisor (vereador) da cidade de San Francisco

A energia, a atração para enfeitar e a imprevisibilidade de Milk às vezes exasperavam Dianne Feinstein, presidente do Conselho de Supervisores. Em sua primeira reunião com o prefeito Moscone, Milk autointitulou-se a "rainha número um" e impôs a Moscone que ele teria que usar Milk ao invés do clube Alice como intermediário se quisesse os votos gays da cidade — um quarto da população votante de São Francisco. Milk, entretanto, transformou-se no aliado mais próximo de Moscone no Conselho de Supervisores. Os maiores alvos da ira de Milk eram as grandes corporações e as imobiliárias. Ficava furioso quando um edifício garagem era planejado para tomar o lugar de casas perto da área central, e tentava-se aprovar um imposto de maneira que os trabalhadores de escritório que viviam fora da cidade e conduziam-se diariamente ao trabalho teriam que pagar pelos serviços da cidade que eles usavam. Milk estava frequentemente disposto a votar contra Feinstein e outros membros mais estáveis do Conselho. Inicialmente concordou com seu colega supervisor Dan White, cujo distrito situava-se duas milhas ao sul do Castro, que uma clínica de saúde mental para adolescentes com problemas não deveria ser instalada lá em um velho convento. Entretanto, após Milk aprender mais sobre o assunto, ele decidiu mudar seu voto, fazendo com que White perdesse sua causa — uma das que ele tinha advogado durante sua campanha. White não se esqueceu disso. Opôs-se a cada iniciativa e questão apoiada por Milk.
Milk iniciou seu mandato patrocinando um projeto de lei sobre direitos civis que bania a discriminação baseada na orientação sexual. A lei foi chamada de "a mais rigorosa e abrangente da nação", e sua aprovação demonstrou "o crescente poder político dos homossexuais", de acordo com The New York Times. Só o supervisor White votou contra; o prefeito Moscone entusiasticamente assinou a lei com uma caneta azul claro que Milk havia lhe dado para a ocasião.
O segundo projeto de lei de Milk concentrava-se em resolver o problema número um, de acordo com uma recente pesquisa na cidade: os excrementos dos cães. Dentro do primeiro mês após a posse, começou a trabalhar em uma lei municipal para exigir dos donos dos cães que recolhessem as fezes de seus animais". Apelidada de "lei do recolhedor de fezes de animais" (pooper scooper law), a sua aprovação pelo Conselho de Supervisores foi amplamente coberta pela televisão e jornais em São Francisco. Anne Kronenberg, gerente da campanha de Milk, chamou-lhe "um mestre em descobrir o que daria cobertura jornalística a ele"

Milk como supervisor

Ele convidou a imprensa para o Duboce Park, para explicar por que a lei era necessária, e enquanto as câmeras estavam rodando, pisou em um material indesejável aparentemente por engano. Seus assessores, no entanto, sabiam que ele tinha ido ao parque uma hora antes da conferência de imprensa para procurar o lugar certo para andar na frente das câmeras. O episódio lhe rendeu a maior correspondência de fãs do seu mandato na política e foi notícia nacional.
Milk e Lira logo separaram-se, mas Lira chamou-lhe algumas semanas mais tarde e exigiu que Milk fosse ao seu apartamento. Quando Milk chegou, viu que Lira havia se enforcado. Já propenso a grave depressão, Lira havia se perturbado com as campanhas de Anita Bryant e John Briggs.

O assassinato
Em 10 de novembro de 1978, dez meses depois de ter sido empossado, White renunciou a seu mandato no Conselho de Supervisores de São Francisco, alegando que o seu salário anual de 9.600 dólares não era suficiente para sustentar sua família. Milk também havia sentido o aperto da diminuição de seus rendimentos quando ele e Scott Smith foram forçados a fechar a Castro Camera um mês antes. Poucos dias depois, White solicitou seu mandato de volta e o prefeito Moscone inicialmente concordou. No entanto, uma análise mais aprofundada — e a intervenção de outros supervisores — convenceu o prefeito a nomear alguém mais em consonância com a crescente diversidade étnica do distrito de White e as inclinações liberais do Conselho de Supervisores. Em 18 de novembro, foi noticiado o assassinato do deputado federal pela Califórnia Leo Ryan, que estava em Jonestown, Guiana, para verificar a distante comunidade construída por membros da Peoples Temple que tinham se mudado de São Francisco. No dia seguinte, chegaram notícias do suicídio em massa dos membros do Peoples Temple. O horror chegou gradualmente quando a população de São Francisco soube que mais de 400 residentes em Jonestown estavam mortos. Dan White comentou com dois assessores que trabalhavam para a sua reintegração, "Vocês veem isso? Um dia eu estou na capa e no próximo sou imediatamente varrido." Logo o número de mortos na Guiana ultrapassava 900.
Moscone planejava anunciar a substituição de White dias depois, em 27 de novembro de 1978.Meia hora antes da conferência de imprensa, Dan White entrou na prefeitura através de uma janela do porão para evitar os detectores de metal e dirigiu-se ao gabinete do prefeito Moscone. Testemunhas ouviram gritos entre White e Moscone, em seguida, tiros. White disparou no prefeito, uma vez no braço e, em seguida, três vezes na cabeça depois que Moscone havia caído no chão. White então caminhou rapidamente para o seu antigo escritório, recarregando ao longo do caminho seu revólver de fabricação exclusiva para policiais com balas de pontas côncavas, e interceptou Harvey Milk, pedindo-lhe para entrar por um momento. Dianne Feinstein ouviu tiros e chamou a polícia. Ela encontrou Milk de bruços no chão, atingido cinco vezes, incluindo duas vezes na cabeça à curta distância. Feinstein estava tremendo tanto que precisou de apoio do chefe da polícia após identificar ambos os corpos.
Foi ela quem anunciou à imprensa, "Hoje São Francisco sofreu uma dupla tragédia de imensas proporções. Como presidente do Conselho de Supervisores, é meu dever informá-los de que tanto o prefeito Moscone como o supervisor Harvey Milk foram baleados e mortos", acrescentando, em seguida, depois de ser abafada pelos gritos de descrença, "e o suspeito é o supervisor Dan White. " Milk estava com 48 anos de idade e Moscone, com 49.
Dentro de uma hora, White telefonou à sua mulher de uma lanchonete nas proximidades, que encontrou-o em uma igreja e acompanhou-o à polícia, onde White entregou-se. Muitos moradores deixaram flores sobre os degraus da prefeitura. Naquela noite, uma reunião espontânea começou a se formar na Rua Castro movendo-se em direção à prefeitura em uma vigília com velas. A quantidade de pessoas foi estimada entre 25 mil e 40 mil, abrangendo toda a Rua Market, estendendo-se a uma milha e meia (2,4 km) da Rua Castro. No dia seguinte, os corpos de Moscone e Milk foram levados para a rotunda da prefeitura onde as pessoas de luto faziam suas homenagens. Seis mil enlutados assistiram à cerimônia funerária para o prefeito Moscone na Catedral St. Mary's. Duas cerimônias foram feitas para Milk; uma pequena no Templo Emanu-El e uma mais turbulenta no teatro de São Francisco.

O assassino de Milk - Dan White

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