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domingo, 7 de junho de 2009

Peça encenada em São Paulo retrata a vida e obra do transgressor pintor inglês Francis Bacon


No Ano da França no Brasil quem recebe parte das homenagens é um pintor inglês. Personagem do espetáculo DesFigura, Francis Bacon tem sua vida e obra roteirizadas pelo romancista francês Pierre Charras. A peça está em cartaz no Espaço Parlapatões, sempre aos sábados, à meia-noite, com direito a beijo gay e narração de Ney Latorraca.
Dirigido e adaptado por Regina Miranda, DesFigura foi traduzido pelo ator Edi Botelho, que interpreta Francis Bacon, e tem performance de Charles Fernandes. Ao entrar no Espaço Parlapatões, a impressão é que veremos um belo espetáculo.
A beleza começa no cenário da peça. Com objetos vermelhos, pretos, um espelho, uma cadeira e uma passarela que percorre todo o palco, além de, supostamente, uma garrafa de champanhe, Edi Botelho encarna Bacon e dialoga com o público e com o bailarino Charles Fernandes.
Mas nem tudo são flores na montagem. A linguagem utilizada na apresentação e a ordem das cenas confundem o público. Foi possível ouvir, enquanto as pessoas deixavam o teatro, comentários de frustração.
Apavoramento – Durante os 70 minutos da apresentação, os 28 espectadores foram testemunhas das esquetes que tinham por objetivo revelar impressões, sentimentos, relacionamentos familiares e profissionais de Bacon. Quando as cenas mudavam de sentido, ouvia-se a narração de Latorraca.
Nem mesmo o reconhecimento de Latorraca foi suficiente para impedir que uma mulher apavorada com as possíveis cenas de nudez deixasse, nos primeiros minutos da peça, o teatro. A tal cena nem aconteceu, apesar do “beijo gay” entre Edi e Charles, ou melhor, Francis Bacon e sua figura humana ideal.
Temático – A diversidade das obras produzidas por Francis Bacon serve como espelho de suas próprias experiências de vida. Assim como em DesFigura, Bacon sempre procurou mostrar a imagem humana em sua essência. O pintor jamais escondeu do público e dos críticos o desejo em representar como os corpos se encontram em determinado espaço. Longe de certos estereótipos, Francis não tinha medo do que os outros diriam de suas produções. “Se eu não pintasse, eu seria um delinqüente”, afirmava o artista.
A prostituição, a pedofilia, a tensão homoerótica, o sexo e a religião, por exemplo, foram alguns dos assuntos abordados nas pinturas de Bacon para representar a busca do homem em transgredir alguns valores para atingir certa liberdade. As pinturas dele, quase sempre, eram entendidas como vontades individuais – já que ele também fazia parte das situações que retratava.
Frequentar clubes gays para fixar imagens de relacionamentos homossexuais era uma das atividades do pintor. Quase embriagado, Bacon ia para casa e, na solidão humana, começava a pôr na tela as imagens que ainda lembrava, antes que a ressaca o fizesse dormir. Quem assiste ao espetáculo DesFigura observa essa passagem na vida desta figura emblemática na história recente da pintura mundial, e "vítima" do fenômeno Pablo Picasso.

Serviço:DesFigura
Onde: Espaço Parlapatões – Praça Franklin Roosevelt, 158 – Centro – São Paulo - SP;
Fone: (11) 3258-4449.
Quando: Até 13 de junho de 2009; Sábado, à meia-noite
Quanto: R$ 30,00 (inteira) e R$ 15,00 [estudantes e aposentados]

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